O esquema movimentou cerca de 800 milhões de Kwanzas
Funcionários bancários em julgamento
O Tribunal Provincial de Luanda iniciou esta quarta-feira, 23, o julgamento de três funcionários bancários, um do Banco de Poupança e Crédito (BPC) e dois do Standard Bank, e de outros seis cidadãos por se apropriarem de cartões multicaixa, que movimentaram três contas bancárias com fundos avaliados em cerca de 800 milhões de kwanzas.
Os nove réus, detidos preventivamente desde Agosto último, são acusados dos crimes de furto doméstico e branqueamento de capitais. O julgamento tem como acusados Paulo Manuel, de 29 anos, técnico de operações do BPC na província do Moxico, Mauro Manuel, de 30 anos, e Mauro Martins, de 35 anos, ambos técnicos de operações do Standard Bank.
Compõem também o banco dos réus, Kened Marcos Cafunda, de 30 anos, Ruben Bernabé, de 31, José Ganga, de 26, Domingos Silvério, de 29, José Domingos, de 33, e Manuel Bumba de 28 anos. Segundo o Ministério Público (MP), o réu Paulo Manuel foi o mentor da fraude, tendo-se aproveitado da sua condição de trabalhador no BPC para engendrar o plano. Como funcionário da agência do BPC no Luau, na província do Moxico, o arguido executava várias tarefas que lhe permitiram ter acesso às contas bancárias de clientes, nomeadamente emissão de cheques e de cartões multicaixa.
A acusação refere que, no dia 10 de Agosto de 2018, Paulo Manuel, sem qualquer autorização, procedeu à emissão de três cartões multicaixa, não personalizados, um pertencente à empresa Noble Group LDA, com o valor de 717 milhões de kwanzas e os outros nos montantes de 67 milhões e 7 milhões de kz, associados a dois clientes cuja identidade não foi avançada no despacho de pronúncia apresentado pelo MP.
Munido dos cartões, refere o MP, o réu Paulo Manuel informou o seu irmão Mauro Manuel, funcionário do Standard Bank, dando-lhe conta que os referidos cartões possuíam muito dinheiro, e pedindo-lhe que arranjasse alguém que ajudasse a extrair o dinheiro das respectivas contas bancárias. O cúmplice teria uma compensação financeira de 25% para entregar o dinheiro em cash ou ceder um T.P.A. para efetuar pagamentos.
Os dois irmãos, conta a acusação, deslocaram-se a Luanda e contactaram Mauro Martins, outro funcionário do Standard Bank e amigo de longa data de Paulo Manuel, tendo Mauro Manuel entregado os respectivos cartões após longo período de conversa. Na sequência, o réu Mauro Manuel efetuou vários contatos com pessoas amigas, dentre os quais os seis có-réus acima mencionados.
Devidamente aliciado pela comissão, entretanto aumentada para 30%, prossegue o MP, o réu Domingos Silvério contactou o réu José Domingos, que, encantado pelo ganho fácil cedeu o código de uma conta bancária titulada pela Sonangol Distribuidora e domiciliada no Banco Angolano de Investimentos. O grupo dirigiu-se então a um multicaixa, no condomínio Dolce Vita, no Talatona, onde efetuou quatro pagamentos sucessivos a favor da Sonangol, no montante de 300 milhões de kwanzas.
Funcionários bancários em julgamento chegaram a negociar compra de carros top de gama
Sequencialmente, o réu José Ganga realizou o pagamento de dois telemóveis IPhone 10, cada um orçado em mais de um milhão de kwanzas, numa loja da Unitel, em Talatona, enquanto o réu Mauro Martins fez uma transferência bancária de 2 milhões de kz para uma conta no BPC. O MP adianta também que o réu Mauro Martins contactou o declarante Adilson Correia, afeto à empresa Alta Tecnologia Angola/China – Sport Car, com a pretensão de adquirir veículos top de gama.
Desconhecendo a origem ilícita do dinheiro, refere a acusação, Adilson Correia agendou um encontro com Mauro Martins e os seus comparsas, todos indicados nos autos, no Shopping Xyami, do Nova Vida, onde teriam reservado quatro veículos, nomeadamente um Porshe Cayenne, um Toyota Land Cruiser e dois Hyundai i10.
Segundo o Ministério Público (MP), como o cartão não permitia efetuar tantos movimentos num único dia, no dia seguinte à transacção, realizada no mês de Agosto, o réu Mauro Martins procedeu ao pagamento de 4 milhões de kz com um dos cartões, correspondente a uma parcela em falta. O MP refere que o Banco de Poupança e Crédito (BPC), naquela ocasião, já estava a par da fraude e bloqueou a conta bancária da empresa Noble Group, sem que os réus soubessem.
Encurralado e pressionado, o réu José Domingos participou os factos às autoridades policiais, que prontamente procederam à detenção dos demais envolvidos no esquema fraudulento. De acordo com Ministério Publico, na sequência de diligências levadas a cabo pelo Serviço de Investigação Criminal (SIC), foram apreendidos em posse dos réus Domingos Silvério e Mauro Manuel uma máquina de clonagem de cartões multicaixa, cujo funcionamento foi certificado pela Empresa Interbancária de Serviços (EMIS), e os três cartões multicaixa emitidos fraudulentamente pelo réu Paulo Manuel.
Em posse dos réus José Ganga e Kened Marcos Cafanda foram encontrados dois telemóveis iPhone 10 e um veículo Toyota Hilux. Consta ainda dos autos que o Banco de Poupança e Crédito (BPC) restituiu os valores que foram subtraídos das respectivas contas, cujo prejuízo ficou avaliado em mais de 300 milhões de kwanzas.
Na sessão desta quarta-feira, o colectivo de juízes da 14.ª secção do Tribunal Provincial de Luanda, encabeçado por João Paulino, questionou ao funcionários bancários em julgamento réu Paulo Manuel, autor principal, se concordava com os crimes de que é acusado, tendo o mesmo respondido que sim. Familiares, amigos, colegas e pessoas singulares encheram a sala de audiências da 14.º secção do Tribunal Provincial de Luanda, prosseguindo amanhã, 25, a audiência pública da discussão e julgamento onde estão arrolados quatros declarantes.
C / NJ
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