O malparado na banca comercial voltou a subir em Outubro, para 19,95% do total do crédito bruto concedido pelos bancos, mais 0,8 pontos percentuais do que no mês anterior, de acordo com os Indicadores de Solidez Financeira do Sector Bancário do Banco Nacional de Angola (BNA). Malparado na banca vale 1.895 milhões USD.
Contas feitas pelo Expansão com base nas Estatísticas Monetárias e Financeiras do BNA, dos quase 5,7 biliões Kz que valia o crédito bruto no final de Outubro passado, que até caiu 0,5% face ao final de 2020, pouco mais de 1,1 biliões eram crédito vencido, ou malparado. Desde o final de 2020, o malparado no total do crédito bruto passou de 18,41% para 19,95%, um crescimento de 1,54 pp em dez meses. Assim, entre o final de 2020 e Outubro de 2021, o crédito vencido aumentou 82,5 mil milhões Kz.
Em valores convertidos em dólares neste período em que o Kwanza inverteu a tendência de queda e apreciou 8,4% (649,6 Kz por USD no final de Dezembro de 2020 e 599 Kz no final de Outubro de 2021) face à moeda norte-americana, o crédito bruto bancário cresceu 7,9% para o equivalente a 9.500 milhões USD, enquanto o malparado subiu de 1.620 milhões USD para 1.895 milhões USD, mais 275 milhões.
Especialistas admitem que as dificuldades que empresas e famílias têm enfrentado para cumprir as suas obrigações com os bancos resultam da situação económica do país, em que a informalidade é predominante, o desemprego é elevado, e o rendimento das famílias tem vindo a cair ano após ano desde 2014 (68% de quebra de poder de compra entre 2014 e 2021). A tudo isto junta-se a política monetária restritiva do BNA, que a 2 de Julho do ano passado, numa medida que visava travar a inflação, aumentou a taxa de juro básica de 15,5% para 20,0%, influenciando o aumento das taxas de juro dos empréstimos das famílias e das empresas.
“A degradação da economia e a inflação em alta são os factores que mais contribuem para quer empresas quer as famílias não consigam cumprir as suas obrigações com os bancos. Não nos podemos esquecer que a inflação em alta fez com que as despesas das famílias com alimentação representem hoje a maior parte dos gastos nos seus orçamentos. E de há uns meses para cá viram as taxas de juro dos seus empréstimos subir. Assim, entre pagar ao banco ou comprar comida, obviamente, escolhem a segunda. E o mesmo acontece com as empresas, que entre pagar salários ou aos bancos escolhem o primeiro”, refere o administrador de um dos maiores bancos nacionais.
E acrescenta: “E há também o que chamamos de créditos marimbondos, que foram concedidos sem garantias, por “cunha”, a pessoas conhecidas ou até mesmo a partes relacionadas desses bancos [administrações e accionistas] e que simplesmente ou nunca pagaram ou deixaram de pagar”.
Expansão