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Regime de José Eduardo Dos Santos fez de Angola uma panela de pressão prestes a explodir – Dom José Imbamba

Notícias de Angola – Regime de José Eduardo Dos Santos fez de Angola uma panela de pressão prestes a explodir – Dom José Imbamba

Em alusão aos 44 anos da independência, o Arcebispo do Saurimo, Dom José Imbamba, concedeu uma entrevista a Radio Eclésia em que  destapou as panelas criadas,  no país pelo então regime do Presidente José Eduardo dos Santos como forma de  analisar a transição politica em Angola “Esta transição saltou muitas tampas.

Muitas tampas saltaram das panelas. Eram panelas de pressão que deveriam explodir e que felizmente foram bem destapadas. E claro que este destapar das panelas mostrou nos a Angola real.

“Esta transição para mim é uma ocasião de graças”

Tido como um dos intelectuais  refinado desta Igreja, o arcebispo católico classifica o actual regime do Presidente João Lourenço,  como um “momento Queirós”, termo religiosamente escolhido e chama atenção para o novo engajamento do Partido MPLA e a mudança de atitude dos vulgo “marimbondos” que pretendem realizar um combatente contrário a ordem instituída no país.

“É preciso que os novos governantes e como estão a tentar se esfoçar não façam do partido,  o todo poderoso. Não façam o partido,  o pensamento de todos. Não façam do partido,  o Deus para todos.

Não façam do partido,  o grande ídolo sem o qual o país não avança”, alertou o Clero Católico na entrevista gentilmente cedida ao LPN.

Que descrição lhe merecem dos 44 anos de Independência Nacional ?

Ao longo dos anos passados, fomos construindo um país sobre uma base sociológica errada, uma base axiológica que nos tornou egoísta, corruptos, ladrões, diria mesmo uma espécie de mercenários.

Claro delapidamos o país, deixamos o povo na miséria,  e isto claro cria frustração, cria desencanto, cria desilusão, e cria esta saudades em muitas pessoas por tempos passados e tanto é assim que hoje por hoje quem esta a procurar corrigir os males do passado é tido como um malvado, como um desgraçado.

Portanto, as pessoas tem saudades daqueles anos em que as coisas pareciam estar bem,  mas que na realidade não estavam bem e vivíamos neste mundo de ilusão de engano e de sonegação.

Então agora que o povo angolano esta a tentar despertar é altura de nos reencontrarmos de termos a cabeça fria pensarmos realmente o pais que nos somos, o pais que pretendemos construir, o pais que seja inclusivo e que seja mãe e pai de todos os seus filhos e filhas.

P – O Arcebispo enumerou aqui uma espécie de marcos históricos desta fase, da nossa independência até agora, o que falhou no passado que temos que tomar como lições para que Angola não volte a ter os mesmos problemas do passado?

R – Eu acho que,  o que falhou foi mesmo o compromisso com o país, falta de patriotismo falhou muito, tanto que fomos enganados com ilusões com teorias bem pintadas e com esquemas de corrupção bem montados que não ajudaram a construir o país  porque todo lutaram e é claro que este descompromisso com a pátria tem no fundo um défice de ética, portanto muitos dos nossos cidadãos não se reviram com o progresso humano, social e cultural que as pessoas deveriam ter no nosso país.

Um pais riquíssimo com poucos habitantes hoje estaria a brilhar se não fosse a ganancia, o egoísmo, a cobiça, o individualismo e outos tantos vícios que os nossos compatriotas exibiram, e é claro toda esta situação cegou nos.

E também acho que os políticos assaltaram o país, porque os políticos não deixaram espaço para outros agentes culturais, a politica hoje manietou todos os outros sectores sociais naqueles anos em que a liberdade de expressão, não era sentida, era muito perseguição , muita coação , muita exibição da força, de ameaças e tudo aquilo para bafar a iniciativa, o pensamento, a opinião contraria daquela que os fazedores da politica de então permitiam fazer e é claro este factor para mim tem sido

empobrecedor, o de quererem que todos pensemos da mesma maneira  vejamos a realidade sobre a mesma ótica a falta de humildade por parte dos políticos mesmos de não aceitarem os males que os outros comprometidamente apontavam.

Havia uma espécie de cegueira e insensibilidade mesmo. Portanto quem denunciasse aquilo que hoje estamos a denunciar era tido como um inimigo do governo, inimigo do poder, uma ameaça ao poder instituído e é claro nos sentimos isso praticamente todos deveríamos tocar o mesmo diapasão mas numa sociedade isto não é possível se queremos uma sociedade plural, aberta, inclusiva.

É  preciso termos todas as inteligências e todos os pontos de vista para se evitar exatamente aquilo que estamos a viver. Agora corremos atrás do prejuízo e isto levou a este descalabro para não falarmos também de um certo permissivismo que notamos  no nosso país.

No nosso país, todos os vícios entraram. Vícios políticos, vícios religiosos, vícios culturais, vícios econômicos , vícios jurídicos, tudo isso afetou a nossa mentalidade, a nossa atitude, o nosso carácter, a nossa dignidade, portanto estes vícios trouxeram para nos esta pobreza humana, pobreza social, pobreza antropológica, a pobreza politica, aquela miopia social que não nos ajudou a olhar o futuro, portanto olhamos o imediato, olhamos a nossa barriga, olhamos os nossos amigos, olhamos a nossa família, e os restantes ficaram a merce da sua sorte, claro e isso criou este desequilibro, não houve uma justiça social propriamente dita, não houve igual oportunidade para todos os angolanos e estes envolvimentos a vários níveis no mesmo país, provoca exclusão, provoca descontentamento, e toda uma situação que não ajuda a pessoa a sentir se feliz pelo país que tem, pela terra que tem.

Também estes marcos influenciaram negativamente para o sentido de missão de pertence.

Estas situações todas fizeram com que o cidadão comum não se interessasse mesmo pela cidadania, que não se interessante pela participação na construção do país porque a cultura que reinava era a cultura do medo, da ameaça, da prepotência, do orgulho, da insensibilidade e daquela avareza que realmente não nos ajudou a estar no dialogo fluente e permanente para que todos de uma maneira multiforme poderíamos dar  o nosso contributo por este bem comum que é a nossa terra.

O que mais lhe preocupa neste exato momento ?

Os nossos gestores públicos devem por a mão na consciência se realmente os serviços deles  está a contribuir para este despertar,  para esta tomada de consciência e de tudo aquilo que é devido aos cidadãos.

A mim o que preocupa é ver os atos devidos, as pessoas a serem exibidos como se de favor se tratasse.

É dever do governo levar estes serviços, é obrigação do governo levar água, levar energia, levar a escola, levar a saúde. Agora não devemos fazer propaganda política a volta dos atos devidos.

Não é um favor que se esta a fazer a população a levar uma escola, a levar energia, a criar condições de habitabilidade e edificação da própria pessoa.

É preciso corrigir este foco errado de encarar os atos devidos ao governo a favor do povo. Se estes serviços não tiverem a qualidade, que se espera, claro que o resultado vai ser também ruim para o tipo de cidadão, para o tipo de cultura que todos nos desejamos possuir.

E este trabalho é de todos nos, enquanto agentes culturais,  eu pessoalmente fico deveras muito preocupado e triste por ver analfabeto escolarizados.

Como assim analfabetos escolarizados ?

Há muitos jovens, muitas pessoas que dizem ter determinadas classes mas que de literacia não tem nada.

E também pessoas com um determinado nível cultural mas que manifestam muito ignorância em vários aspectos da vida. Por exemplo quando eu vejo uma pessoa culta ainda a viver de crendices , ainda acreditar que o poder que tem é porque alguém lhe amarrou um cinto ou que lhe fez feitiço ou lhe deu poderes para ser alguém ou para ter algo, isto tudo é analfabetismo.

Tanto são destas trevas que nos temos de nos libertar infelizmente, esta libertação cultural que vai repercutir na libertação da mentalidade e da própria vida social, é necessária para podermos ser nos mesmo e alavancarmos aquele desenvolvimento humano que todos nos desejamos.

Como olha a actual transição que o país, observa ?

Esta transição saltou muitas tampas. Muitas tampas saltaram das panelas. Eram panelas de pressão que deveriam explodir e que felizmente foram bem destapadas. E claro que este destapar das panelas mostrou nos a Angola real. Estávamos construir e a viver numa Angola fictícia.

Portanto numa Angola em que o Angolano era exibido como cheio de dinheiro, como o sem problemas, um angolano que vivia num pais sem assimetria e desenhava se um pais que não condizia com a realidade.

A campanha propagandística da venda da imagem do país e dos angolanos trouxe as consequências que hoje estamos a ter e claro que esta transição foi benéfica e vai ser curativa pela coragem que o atual Chefe de Estado tem de encarar o mal com os olhos que vê e assumir os pecados sociais que foram cometidos e que antes eram, como disse, fechado termicamente para que ninguém os visse e ninguém falasse deles.

Esta coragem é curativa embora para muitos é uma desgraça, é um sofrimento. As crises são mesmo assim, portanto tem a parte dolorosa e depois tem a parte da felicidade.

O Senhor arcebispo esta a querer dizer que este momento difícil que Angola esta passar como as reformas de Estado podem resultar numa vida melhor ?

Não é, devem resultar porque há correções profundas que estão a ser feitas e esta mentalização para que todos nos comprometamos que a ética, para que todos nos comprometamos com a honra, para que todos nos comprometamos com a missão para e pelo povo tudo isso passa pela revisão de posturas e de mentalidades.

Portanto é uma nova cultura de governação que se esta a se impor. Só que isso também não deve ser feito com pessoas que já estão viciadas pela raiz. Não pode ser feito com pessoas cuja a mentalidade já mostrou no tempo e no espaço ser uma mentalidade corrosiva , ruim a sociedade.

Há que haver também esta coragem de não se sentir prisioneiro das tendências de determinadas famílias, de determinados nomes sonantes da nossa politica, que detém o poder económico e politico e manipulam e guiam tudo para salvaguardar os seus próprios interesses. Portanto esta transição para mim é uma ocasião de graças. Em termos teológico, diríamos que é um momento keiros.

É um momento em que nos todos estamos a fazer um exame de consciência colética. Quem somos, que país temos e que país devemos construir. Este é um trabalho de todos.

É preciso que os novos governantes e como estão a tentar se esfoçar não façam do partido o todo poderoso. Não façam o partido, o pensamento de todos. Não façam do partido,  o Deus para todos. Não façam do partido, o grande ídolo sem o qual o país não avança.

A militância não deve estar acima,  não deve estar acima da cidadania. Isto deve estar bem vincado nos nossos actos, nas nossas atitudes e nos nossos comportamentos e auguro verdadeiramente que esta fase ruim que estamos a passar por causa dos atos ilícitos dos maus comportamento e do descompromissos com a ética.

Este mau bocado que seja breve para que quanto antes possamos sentir este alivio deste sufoco financeiro e social que estamos a através neste momento.

O Presidente da Republica João Lourenço parece travar varias lutas, lutas para pais e lutas dentro do
seu próprio partido que colocaram o pais nesta situação qual o apelo que se deve fazer contra aquele que estão no partido contra o PR João Lourenço, quanto aqueles que não estão no partido no poder mas também estão contra as ações do PR?

Eu acho que a atitude destes concidadãos deveria ser outra. É claro que eles estão a defender o tacho deles, viviam a sombra deste Estado providente, deste Estado que despejava dinheiro, deste Estados que comprava inteligência, mentes, serviços.

Deste Estado que incentivava o amiguismo, o familiarismo, a intriga, a calunia, a perseguição, portanto deste Estado que não se interessava pelo bem social dos seus filhos mas sim de algum dos seus filhos. Claro que as pessoas estavam a viver nesta comodidade e neste favoritismo é lógico que não vão estar satisfeitas.

É lógico,  por que não vão estar satisfeitos por isso a estes nossos cidadãos apelamos que sejam mesmo patriotas,  que amem o país acima dos interesses pessoais ou familiares. Que estejam altruístas e que saibam trabalhar para os novos tempos.

E os novos tempos são estes, são tempos de abertura de integração, de correção, tempo de procurarmos todos nos cada um com o seu tempo e suas capacidades , dar o melhor de si para a construção desta terra que é de todos nos.

Este trabalho, claro, vai exigir muita inteligência muito trabalho e sobretudo muita humildade.

Nos desprezamos muito esta atitude de humildade, de sabermos que realmente erramos, ou pecamos, e termos a vontade de regeneração, de conversão de nos adequar aos novos tempos, de nos adequar as novas posturas , nova atitude, de procurarmos não nos servimos, nem do poder nem dos privilégios do próprio Estado, para tirarmos dividendos pessoais em detrimento de todos aqueles não tem estes privilégios.

É preciso que a justiça esteja ao dispor de todos. É preciso que os bens produzidos no país estejam a dispor de todos, que os serviços estejam ao alcance de todos.

Que as oportunidades estejam ao dispor de todos. Isto vai fazer com que cada um faça valer as suas capacidades, as suas inteligências para o poder, digamos assim, tirar bom proveito a tudo aquilo que o país lhe oferece como oportunidade.

C/ LPN

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