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Pastor da Igreja Evangélica Congregacionista de Angola (IECA) compara Savimbi a Jesus Cristo

Pastor da Igreja Evangélica Congregacionista de Angola

Para Bonifácio Cassoma não há libertação sem sangue. Jonas Savimbi estudou na Igreja Evangélica Congregacionista de Angola no Bailundo, onde, segundo o pastor, aprendeu os valores do nacionalismo.

Um pastor da Igreja Evangélica Congregacionista de Angola (IECA), onde Jonas Savimbi estudou, considerou hoje que o líder histórico da UNITA “morreu a lutar para libertar”, tal como o fez Jesus Cristo. Em declarações à agência Lusa, Bonifácio Chinguale Cassoma respondia desta forma à pergunta sobre se a imagem de Savimbi, morto em combate em 2002, pode ficar manchada por ter sido um dos homens que escreveu uma das páginas mais sangrentas da história de Angola na segunda metade do século XX.

“Eu quero dizer ao senhor jornalista que não há nenhuma libertação que não leve sangue. Toda a libertação leva sangue. Mais, quando quem coloniza não tem o conceito de dar a liberdade, tem de se morrer, porque Jesus Cristo, também para nos libertar, deu a sua vida. Temos esse sentido como cristãos, que toda a libertação leva sangue. Onde há o pecado, onde a injustiça reina, o sangue perde-se mais”, respondeu.

Bonifácio Cassoma, natural do Bailundo, na província angolana do Huambo, falava à Lusa durante as exéquias fúnebres de Savimbi, que decorreram hoje em Lopitanga, terra natal dos pais do líder histórico da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), 30 quilómetros a oeste do Andulo, no norte da província do Bié.

O pastor, de 69 anos, reivindicou para a igreja que representa os valores por que Savimbi lutou, lembrando que a missão evangélica da IECA chegou a Angola em 1880, pouco depois da Conferência de Berlim (que dividiu o território africano pelas potências europeias que colonizaram África), no final do século XIX.

“Foi esta igreja que ajudou na formação de Jonas Savimbi, no Bailundo, onde foi criada a primeira igreja congregacional, em ligação com a Igreja Congregacional da África do Sul, no Kwazulu Natal, reivindicou Bonifácio Cassoma, que afirmou ter conhecido bem, “desde tenra idade”, os pais de Savimbi e os “feitos” do homem que viria a tornar-se o presidente da UNITA, em 03 de março de 1966.

“Vejo Savimbi no contexto histórico de Angola como um indivíduo que cumpriu a sua missão. Os primeiros missionários que chegaram tinham um objetivo, a América chega a Angola com um princípio. Na Conferência de Berlim, em 1880, os americanos não tiveram lugar em Angola e prometeram chegar a Angola pela evangelização”, explicou.

“A África, em geral, mas o Planalto Central [angolano, maioritariamente Bié e Huambo], em particular, deu muitos escravos. Quando a escravatura acabou, os americanos criaram na mente dos filhos dos antigos escravos para regressar, através de uma missão evangelizadora”, prosseguiu o pastor angolano.

Bonifácio Cassoma reivindicou que foi nessa altura, nos anos de 1940 e 1950, que a IECA trouxe para África o conceito do ensino do nacionalismo.

“Não foram os portugueses que ensinaram o nacionalismo, mas sim os americanos nas missões cristãs que fundaram. Se formos ver, tanto os batistas, como os metodistas e os congregacionais tiveram o mesmo propósito: instruir os seus membros para que venham amanhã libertar o seu país do jugo colonial”, reivindicou.

Para o pastor da IECA, Savimbi “nasceu no seio” da IECA e “entrou nesse conceito”, ao estudar nas missões.

“Na avaliação da inteligência feita pela igreja, [Savimbi] caiu na graça dos missionários americanos, que lhe deram uma bolsa para continuar os seus estudos fora do país. Os valores transmitidos foram para que estudasse, para ser um indivíduo útil para o seu país”, defendeu.

“Naquela altura, já existia o conceito das independências nos países africanos e isso norteou-o bastante, continuando a estudar com força”, acrescentou, lembrando que o líder histórico do Galo Negro pertenceu ao terceiro grupo de bolseiros da IECA.

No entender do pastor angolano, Savimbi, em vida, “nunca esqueceu” a IECA, salientando que o “combatente e guerrilheiro” levou sempre pastores e padres nas suas campanhas militares no interior do país.

“Reconheceu sempre [o papel da IECA] e a Igreja deu um contributo valoroso. Quando optou por entrar nas matas para fazer a luta, não se esqueceu de levar pastores pois sabia que, como a Bíblia fala, no exílio houve sempre profetas. Levou pastores e padres para poder educar o povo na fé de Deus em Jesus Cristo. Esses valores continuaram e a Igreja viu sempre presente esses valores lá onde a guerra obrigou Savimbi a deslocar-se e espalhou a voz junto da guerrilha”, concluiu.