Notícias de Angola – Médico chinês atende pacientes com tradução de telemóvel na Huíla
As dificuldades de comunicação entre o único médico de clínica-geral e os pacientes, bem como a falta de equipamentos de segurança no laboratório, figuram entre as debilidades da Clínica Tyanyou China & angola Hospital. a Inspecção Geral do Trabalho na Huíla reconhece-o e a Inspecção da Saúde promete investigar.
Um médico asiático da Clínica Tyanyou China & Angola Hospital, localizada no sector de Camujengue, comuna da Arimba, município do Lubango, recorre à tradução de uma aplicação num telemóvel, de mandarim para português, para atender os pacientes.
Foi constatado no local, que o único médico de clínica-geral, que é de nacionalidade chinesa, não fala nem entende a língua portuguesa. Nara de Fátima Neves Rebelo, representante da clínica, esclareceu que ele conta com o auxílio de uma tradutora, também de nacionalidade chinesa, para se comunicar com os pacientes.
Todavia, segundo apuramos, a alegada tradutora, recorre a uma aplicação de tradução do Português para o Mandarin instalada no seu telemóvel. Os pacientes desdobram-se para entender a mensagem que os especialistas lhes pretendem transmitir. No decurso da reportagem, encontramos uma paciente que está há sete dias a fazer tratamento de acupuntura.
A nossa interlocutora, que preferiu não ser identificada, contou que se comunica com o médico por gestos. “Como o médico não fala português, ele me chama gesticulando com as mãos, coloca as agulhas e, depois, chama o enfermeiro para vir retirar”, detalhou.
Violação aos direitos trabalhistas
Esta clínica, detida por sócios angolanos e chineses, é acusada de violar de forma reiterada a Lei Geral do Trabalho, coartando aos seus funcionários o direito a férias e subsídios. As principais vítimas serão quatro cidadãos nacionais, sendo dois enfermeiros, um técnico de laboratório e uma responsável pela manutenção da higiene do edifício. Estão entre cinco a um ano sem férias. Nem a folgas se têm direito.
Em declarações a OPAÍS, Paulino Ernesto Tchicambi, técnico de laboratório, funcionário da clínica há cerca de quatro meses, contou que até ao momento não tem folga efectiva e nem tem contrato de trabalho assinado. “Nós temos uma forma de trabalho muito frustrante. Comecei a trabalhar a 15 de Março, sem contrato escrito”, explicou.
Questionado sobre o sistema de remuneração, o nosso interlocutor, revelou que o salário lhe é pago regularmente, mas, ainda assim, deplora a falta de um contrato. Em seu entender, sem este, torna-se difícil conhecer em que se consubstancia o vínculo que mantém com a empresa e exigir os seus direitos. “Nós não temos folga diária.
Não temos férias, nem os respectivos subsídios. Como nunca vimos os contratos, não sabemos também se existe uma cláusula que fale deste aspecto, mais a lei é clara nisso” disse.
Falta de bio-segurança preocupa técnico de laboratório
Entre outras preocupações apresentadas por Paulino Ernesto Tchicambi, técnico de laboratório, prende-se com a falta de segurança no seu local de trabalho. Por trabalhar desprotegido com produtos infecto-contagiosos, Paulino Tchicambi teme que um dia seja infectado por qualquer doença decorrente do seu trabalho, por falta de segurança.
“Não tenho equipamento de segurança a 100 por cento. As normas de um laboratório dizem, por exemplo, que o técnico deve ter avental, gorro, máscara e óculos, porque há pessoas que têm um fluxo de sangue com muita velocidade e ao fazer flebotomia (colheita de sangue pelas veias) o sangue pode sair em jacto e entrar nos olhos, e se está pessoa sofrer de qualquer enfermidade ficas logo contaminado”, adiantou.
Representante da clínica garante que cumprem a lei
A nossa equipa de reportagem contactou a representante daquela clínica, por telefone, porque esta se encontra a residir na província de Benguela, no sentido de explicar as modalidades do funcionamento e as políticas de admissão do pessoal.
Nara de Fátima Neves Rebelo respondeu não ser de sua competência a gestão da referida clínica, no entanto, assegurou que todos os funcionários, quer expatriados, quer angolanos, recebem o mesmo tratamento. “Eu estou em Benguela. A clínica resulta de uma parceira com uma empresa chinesa. Não sou eu quem faz a gestão. Pelo que me consta, desde que abriu, têm cumprido todos os procedimentos”, frisou. Acrescentou de seguida que “temos contratos com os chineses, logo, com os angolanos não seria diferente. Como sabe, a gestão não é da minha responsabilidade. Não me compete responder por isso”.
Fonte: O País