Ánalise – Os custos de manter o BPC na posse do Estado
Os sucessivos prejuízos do BPC põem em causa a seriedade do nosso sistema bancário e do seu regulador.
Os bancos públicos existem para reduzir os custos de serviços de infraestrutura do governo, oferecer serviços bancários a pessoas e entidades não atendidas pelo sector privado e promover desenvolvimento económico e sustentável. Neste processo, a orientação para lucros constitui condição sine qua non para a sua continuidade.
De acordo com o Relatório e Contas de 2019, os resultados do Banco de Poupança e Crédito (BPC) atingiram valores negativos na ordem dos 404,7 mil milhões Kz. Na base deste prejuízo estão as perdas por imparidade, que aumentaram em 272 mil milhões Kz. A margem financeira reduziu em 12,8 mil milhões Kz devido às alocações ineficientes de crédito.
O rácio cust-to-income atingiu um valor negativo de 385,3% demostrando que o BPC é tão ineficiente que gasta, aproximadamente, 4 Kz para gerar 1 Kz em receita.
Para além de ser claramente um custo para o Estado, o BPC não consegue nem sequer prestar os serviços bancários mínimos com qualidade e mostra ser um peso morto para o desenvolvimento económico.
Então, com todo esse prejuízo quais as razões que levam o Executivo a não privatizar o banco? O Executivo não privatiza por considerar estratégico ter um banco público e também, provavelmente, porque parece que ainda não nos revemos num sistema bancário sem uma instituição pública que possa ser o principal credor.
Relativamente à primeira razão, quero afirmar que do ponto de vista de uma estratégica económica dinâmica não faz sentido manter o BPC em posse do Estado por ser um banco ineficiente e mantê-lo como banco público é incorrer num custo de oportunidade muito alto que não vale a pena. Em relação à segunda razão, de acordo com a edição n.º 576 do Expansão, os lucros da Banca no 1.º trimestre deste ano sem o BPC aumentaram mais 75%, mas com o BPC diminuíram em 15,8%. Deste modo, percebe-se que há margens significativas para o sistema bancário funcionar melhor na ausência de bancos públicos.
Mateus Maquiad, in Expansão