PGR e os 60 mil fantasmas da polícia nacional – Evalina Ding’s
O nosso país era de facto a casa do tio Zé. Pois, sem sombra de duvida, a sua governação foi marcada e manchada pelo saqueamento e a corrupção activa que agora o actual Presidente João Lourenço está tentar reduzir, pois extinguir este mal será quase impossível. Já que ele [JLO] também fez parte do grupo das pessoas – bem identificadas – que saquearam, ou melhor, sugaram o país até ao tétano.
Há escassos anos, este portal noticioso – que hoje o tempo provou que afinal tem a razão – se dedicou a desmantelar incansavelmente os colossos da corrupção no seio deste órgão castrense que é a polícia nacional, que tem como a missão principal de assegurar e proteger todos os cidadãos comuns, que somos todos nós (os não marimbondos) da extrema violência dos marginais, que são frutos da má governação do executivo de José Eduardo dos Santos.
Ora, no final do mês de Agosto do ano em curso, o actual Comandante Geral da Polícia Nacional, Paulo Gaspar de Almeida, revelou publicamente, na cerimónia de encerramento do 17º Curso Básico de Polícia de Ordem Pública, que afinal o país está a ser assegurado por apenas 60 mil efectivos e não 120 mil como – até a sua exoneração – assegurava o seu antecessor, o comissário geral Ambrósio de Lemos publicamente. Sic!
Em discurso contínuo, o comissário geral Paulo de Almeida admitiu que, com este número, não há capacidade para tamanha demanda, uma vez que um polícia atende apenas 500 pessoas. “Este estado de situação tem criado um certo sentimento de insegurança à nossa população”, frisou, para quem a Polícia tudo tem feito para garantir a estabilidade, a ordem e a tranquilidade públicas.
No nosso entender modesto entender, os outros 60 mil efectivos da polícia nacional eram – sem mais nem menos – fantasmas que recebiam salários chorudos. Nessa senda, se calculamos bem veremos que, ao longo deste período, o nosso Estado perdeu centenas de milhares de dólares norte-americanos que poderiam ter sido aplicados noutras áreas chaves, como a educação e saúde, que são essenciais para a estabilidade económica do país.
Enquanto que, em Fevereiro de 2016, em conferência de imprensa no quadro dos 40 anos da corporação, o então comandante geral garantiu, de boca cheia de pés juntos, que existiam na corporação cerca de 120 mil efectivos que têm contribuído para a manutenção da ordem pública (talvez o termo correcto seria, a manutenção dos pilhadores do país).
O pior ainda é que, há quase três meses, diante do tribunal militar, o comissário Francisco Massota – que respondia perante este órgão de justiça sobre as suas falcatruas, que não são poucas – afirmou que encontrou em folhas de salário da Escola de Polícia de Protecção e Intervenção cerca de 3.508 efectivos fantasmas que recebiam ordenados desde 2005.
O denunciante (que foi chamado de mentiroso pelo infeliz do actual comandante geral) disse que descobriu as falcatruas nas folhas de salário, durante as formaturas – eram realizadas à sexta-feira, durante três anos seguidos – com todos os efectivos, incluindo doentes, no sentido de apurar a existência física dos mesmos, e tendo constatado apenas a presença em parada de menos de 500 efectivos, quando nas folhas de efectividade da escola existiam 3.508.
E em defesa dos seus amigos saqueadores e corruptos que transformaram a nossa polícia num órgão de ladrões, Paulo Gaspar de Almeida garantiu – após uma boa dose de whisky – que as revelações do comissário Francisco Massota – que responde em tribunal pelos crimes de burla por defraudação, conduta indecorosa e abuso no exercício do cargo, quando era director da Escola Nacional de Formação de Polícia de Protecção e Intervenção – eram tudo mentira. E como a ‘verdade é como o azeite na água’, mais tarde disse (já em estado sóbrio) o que disse.
Não é preciso ser um grande matemático – na dimensão do deputado Nfulunga Nlando Vitor, de triste memória, assassinado à sangue frio a mando de José Eduardo dos Santos – para chegar a conclusão que h(avia)á uma máfia bem estruturada no seio da polícia nacional que está abocanhar o dinheiro de todos nós. E esta máfia constituída é bem organizada (dentro do Ministério das Finanças e do Banco de Poupança e Crédito) a partir da direcções dos Recursos Humanos da polícia nacional, espalhadas em todo território nacional.
Sinceramente não acredito que os responsáveis dos Recursos Humanos (nacionais, provinciais e municipais cessantes e presentes) e os próprios comandantes não participa(ra)m desses banquetes que se traduz nos crimes de corrupção, enriquecimento ilícito, branqueamentos de capitais e outros mais, todos eles puníveis no ordenamento penal angolano.
É necessário e urgente que a Procuradoria Geral da República (PGR), como garante da legalidade, notifique mais rapidamente possível os responsáveis (sobretudo os comandantes gerais e directores nacionais, provinciais e municipais cessantes) destas áreas da polícia nacional a fim de justificarem de onde surgiram os cerca de 60 mil efectivos que recebiam tranquilamente os salários para serem responsabilizados civil e criminalmente.
Porque, no nosso entender, o combate à corrupção deve abranger a todos áreas e não apenas em alguns marimbondos, no sentido de ‘corrigir o que está mal e melhorar o bem’ em respeito à luta do Presidente da República.