Notícias de Angola – Médicos russos paralisam actividades em Benguela por falta de salários
Quarenta médicos russos que prestam serviços nos hospitais da província angolana de Benguela deram início de ontem, 2 de Dezembro, uma greve por tempo indeterminado para exigir o pagamento de 25 meses de salários em atraso, com a dívida do Ministério da Saúde em cerca de 20 milhões de dólares norte-americanos, indica uma nota de protesto elaborada pelos profissionais.
Esta situação, a três dias da paralisação anunciada por médicos angolanos, deixa marcas na maternidade do Hospital Municipal de Benguela, onde se encontra a maior parte dos grevistas (10), com uma média de cinco cesarianas por dia.
Na maior unidade sanitária do município-sede, já depois de contactos com a Administração, a VOA viu o seu trabalho condicionado pelo chefe da segurança, conhecido por “Mestre Cão”, que intimidava quem quisesse prestar declarações.
“Oh … mamã, se você não sabe do assunto não adianta falar à toa”, disse, em tom intimidatório, o segurança, quando uma parturiente começava a prestar declarações.
Mesmo assim, conseguimos declarações de uma jovem submetida à cesariana bem antes da greve
“Tive no dia 21, uma cesariana, com estrangeiro, mas hoje vim tirar os pontos, são mesmo os nossos, até aqui está a correr bem”, aponta Amélia.
Os médicos russos são pagos pela empresa Zdravexport, também russa, ao abrigo de um contrato com o Ministério da Saúde.
O mesmo acontece com a empresa Antec, que paga a profissionais cubanos em Benguela.
Não tendo conseguido uma entrevista com o director-geral, a VOA recorre às declarações prestadas à rádio pública pelo director-clinico, Luís Vieira.
“Dos seis médicos na maternidade, cinco são russos e um angolano. O número de cesarianas varia de 4 a 6, e esses médicos é que ajudam imenso. Temos ainda casos complicados como as rupturas uterinas, gravidezes com hemorragia que fazem parte de emergências médicas”, salienta o médico.
Em resposta, o Gabinete Provincial de Saúde diz que o assunto é da competência da estrutura central.
Há uma semana, no lançamento da greve dos médicos angolanos, o líder sindical Edgar Bucassa criticava o Governo pelo não aproveitamento de profissionais nacionais.
“Os médicos passam por avaliação, num país carente, onde até o próprio Governo paga formação no exterior. Eles, depois, acabam no desemprego”, sublinha o sindicalista.
Os hospitais geral de Benguela e municipal do Lobito são outras unidades sanitárias com médicos russos.