O número de jovens que não trabalham nem estudam em Angola não para de subir e no final do III trimestre atingiu quase 1,2 milhões de pessoas, o que representa um crescimento de 34% face ao final de 2021, equivalente a mais 394 mil jovens, de acordo com cálculos do Expansão com base no Inquérito ao Emprego do Instituto Nacional de Estatística (INE) publicado esta semana. No final do III trimestre, jovens com idades entre os 15 e os 24 anos representavam 60% do total da população activa do país, ou seja, quase 1,2 milhões de pessoas entre pouco mais de 1,9 milhões.
Este absentismo nas camadas mais jovens não é novo em Angola e é encarado como um sinal preocupante de que à falta de capacidade para gerar emprego nas camadas mais jovens ou até mesmo condições para que continuem com os estudos, o País tem estado a criar cada vez mais potenciais delinquentes ou, no limite, uma geração ociosa sem hábitos de trabalho. Entre os que nada fazem, há que contar também com os casos de afectam, por exemplo, o sexo feminino já que em Angola há uma elevada taxa de gravidez na adolescência, que as acaba por atirar para fora da escola e do mercado de trabalho.
Entre os quase 5,5 milhões de jovens economicamente activos, ou seja, que nos últimos 7 dias anteriores ao inquérito constituíam a mão-de-obra disponível para a produção de bens e serviços, 54% estavam desempregados, sendo esta a camada da população mais afectada pelo desemprego no país. Por outro lado, no final do III trimestre deste ano 46% destes 5,5 milhões de jovens estavam empregados, ainda que provavelmente a viver de biscates, se tivermos em conta que 79,2% da população empregada do País ganha o seu ganha-pão na informalidade. Hoje já não é possível aferir no inquérito do INE quantos jovens têm empregos formais simplesmente porque o INE deixou de publicar esse dado concreto a partir deste ano.
Para se ter uma ideia da informalidade nas idades entre os 15 e os 24 anos é preciso recuar ao final de 2021, quando o INE ainda avançava com essa informação. Assim, naquela altura, entre os 2.235.191 jovens empregados, apenas 165.945 tinham emprego formal. Ou seja, 93% dos jovens tinham empregos informais. Face ao final de 2021, em Setembro deste ano há mais 273 mil jovens empregados, e menos 353 mil desempregados. Por outro lado, esta camada na população activa recuou em 81 mil pessoas.
Mais quase 288 mil empregos formais
Segundo os dados do INE, entre o final de 2021 e o fim do III trimestre deste ano, houve apenas um aumento de quase 137 mil pessoas em idade activa e um aumento de quase 572 mil pessoas com emprego, sendo que destas 50,4% foram para o mercado formal e o restante para o mercado informal. Este aumento do emprego formal será, parcialmente, uma consequência do Programa de Reconversão da Economia Informal (PREI) – ainda que em números muito mais modestos que os anunciados pelo Governo, pois o número de inscritos na Segurança Social são bastante inferiores aos divulgados pelo Ministério da Economia, conforme anunciou o Expansão na sua edição 735, em que dos 150 mil inscritos no PREI apenas 5% entraram na SS. E há a questão do crescimento, ainda que ligeiro, da economia angolana depois de cinco recessões consecutivas.
Por outro lado, há um recuo de quase 435 mil desempregados, com a taxa de desemprego a cair de 32,9% no final de 2021 para 30,0% no III trimestre deste ano. A população empregada com 15 ou mais anos foi estimada em 11.459. 806 pessoas, sendo 5.727. 980 homens e 5.731.826 mulheres.
A taxa de emprego foi estimada em 62,6%, sendo na área rural significativamente superior à urbana, 76,1% e 55,2% respectivamente. 49% da população empregada declarou que exerce o seu emprego principal na agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca seguido do comércio por grosso e a retalho com 22,1%. Um terço da população empregada trabalha por conta própria (33,1%).
O IEA é um inquérito por amostragem, dirigido aos agregados familiares residentes em Angola, sendo excluídos os agregados familiares residentes em habitações colectivas, tais como hotéis, hospitais, quartéis militares, residências de estudantes, sem-abrigo, etc. A amostra deste inquérito é probabilística e permite disponibilizar dados a nível nacional, por província e por área de residência (urbana e rural). Por trimestre são seleccionados um total de 10.944 agregados familiares, sendo 6.036 na área urbana e 4.908 na área rural.
Fonte: Expansão