Notícias de Angola – Covid-19: Polícia fecha principais vias em Luanda
O cenário caótico vivido na manhã de terça-feira nas principais vias de acesso à Baixa de Luanda, com engarrafamentos infernais e milhares de pessoas a caminhar a pé, voltou a repetir-se ontem, no período da manhã, em várias zonas da capital, mas desta feita pelo facto de a Polícia Nacional ter impedido a circulação de viaturas particulares e de empresas não autorizadas a trabalhar, no âmbito do alívio das medidas do Estado de Emergência.
A partir do viaduto do Quilómetro 25, que faz intercepção entre Cacuaco, Zango e Viana, a Polícia Nacional montou três postos de controlo, até ao supermercado Alimenta Angola, na Estalagem, fechando os acessos à Avenida Deolinda Rodrigues.
As poucas viaturas autorizadas a circular naquela via, pelo menos durante o período da manhã, eram aquelas cujos utentes exibiam documentos comprovativos da entidade patronal, que autoriza a trabalhar neste período de confinamento.
As restantes foram obrigadas pelos agentes da Polícia Nacional a regressarem à procedência.
Deste modo, a saída de Viana, através da Avenida Deolinda Rodrigues para outras partes de Luanda era facilitada, porque àquela hora circulavam poucas viaturas. Mas, no sentido inverso, assistiu-se ao caos total. Tudo parado, não se entrava para Viana, principalmente a partir do Grafanil, tendo-se formado várias filas desordenadas, até próximo do desvio da rua do INEA.
Taxistas e autocarros de empresas transportadoras em número muito reduzido levavam passageiros, mas sem lotar os espaços todos, o que agudizou a situação de milhares de pessoas, que por várias razões deixaram de manhã cedo as suas casas em busca de afazeres em várias zonas da capital.
Enquanto se contava pelo dedos de uma só mão a quantidade de viaturas que deixavam Viana em direcção a Luanda, milhares de pessoas não perderam tempo em esperar por transporte público, decidindo caminhar a pé, formando outro caos à berma da Estrada de Catete.
Na Avenida Pedro de Castro Van-Dúnem “Loy” a circulação ficou caótica, porque a Polícia Nacional montou um bloqueio depois do Viaduto, no Golfe 2. Para ali chegar, foram precisos pelos menos 30 minutos, devido aos constrangimentos, tendo a maioria das viaturas sido desviadas para o retorno, junto à agência do BFA. Dali, para o complexo residencial do Gamek, no Morro Bento, não houve problema, mas daquele troço até à zona da seguradora AAA, para o acesso à 21 de Janeiro foram gastos 30 minutos, entre anda-pára.
No entanto, e porque as entradas para a 21 de Janeiro estavam barradas, a circulação até à Baixa de Luanda, passando pelo Aeroporto Doméstico, Tourada, viaduto da Deolinda Rodrigues, Hoji ya Henda, Avenida dos Combatentes, Kinaxixi e Mutamba, a circulação foi feita em menos de 30 minutos, “estava fofa”, como dizem os miúdos do bairro.
Mulheres na caminhada
A transpirar e com uma máscara de tecido africano a cobrir a boca e nariz, dona Madalena, na casa dos 65 anos, saiu do interior do bairro Kalawenda, no Cazenga. A partir da paragem do “Papá Simão”, conseguiu um táxi que a levou até à passagem de nível do comboio do CFL, na zona do Gamek, para chegar até à Estrada de Catete, sem constrangimentos.
Devido à escassez de táxis e de autocarros, dona Madó, não perdeu tempo na paragem e integrou o “exército” de mulheres, homens e adolescentes que caminhavam a pé, ontem de manhã, no sentido Viana-Luanda. Ela tinha como destino o bairro Alvalade, ao encontro da filha, médica de uma clínica na capital.
Mal o repórter subiu a velha e enferrujada ponte pedonal, na zona da BCA, próximo ao desvio da Rua da Condel (Asa Branca), para fazer fotografias, a senhora, por sinal conhecida, fazia de tudo para despertar a atenção do autor desta linhas, que por ter os dispositivos básicos de segurança decidiu levá-la, colocando-a no banco traseiro, como se recomenda. “Estou a cuidar dos meus netos, porque a minha filha, por fazer parte da equipa que está a tratar pacientes com Covid-19, está fora de casa, colocada num hotel, a expensas da unidade sanitária. Vou ao encontro dela para receber um dinheiro para as despesas”, justificava dona Madó em conversa com o repórter.
“Não há táxis, as vias estão todas fechadas. Para subir nos poucos carros que aparecem é preciso lutar”, justificava a mulher perante a filha ao telefone, bastante pressionada devido ao atraso.
Sem perder o fio à meada, continuou: “Tive de andar grande distância a pé, e tenho as pernas doridas”, relatou dona Madó, que confessou ao Jornal de Angola não se “recordar de ter um dia andado semelhante distância”.
“Dou graças a Deus, ter conseguido boleia de uma pessoa conhecida, que vai deixar-me apenas na paragem da Shoprite e depois dali vou ver o que fazer para chegar ao Alvalade”, concluiu o diálogo e despediu-se do repórter.
Autoridades ajustam procedimentos
Na conferência de imprensa da Comissão Multissectorial de Combate à Covid-19, realizada na terça-feira à noite, o porta-voz do Ministério do Interior, subcomissário, Valdemar José, havia criticado o desrespeito por parte de alguns segmentos da população de Luanda das medidas de segurança, decretadas no âmbito do Estado de Emergência.
Valdemar José manifestou preocupação devido à conduta de muitos cidadãos, em Luanda, que após ao alívio de algumas medidas, saíram às ruas na segunda e terça-feira, criando caos no trânsito, “como se não estivéssemos perante o Estado de Emergência”. Face ao comportamento dos cidadãos na segunda e terça-feira, o subcomissário Valdemar José disse que “vai haver um ajuste nos procedimentos das autoridades”, alertando a população para não se surpreender com algumas medidas a adoptar pelas forças de Defesa e Segurança, nos próximos dias.
“O nosso objectivo não é adoptar medidas coercivas. Só o faremos, se o cidadão não acatar esta comunicação como sendo para cumprir”, alertou, na ocasião, o porta-voz do Ministério do Interior na Comissão Multissectorial, criada pelo Executivo angolano para combate à pandemia da Covid-19.