Covid-19: Casos com vínculo por esclarecer é transmissão comunitária da doença – Afirma Médico Angolano
O médico angolano, Jeremias Agostinho, considera que os “casos positivos da covid-19 com vínculo por esclarecer”, constituem, em “rigor” de “uma transmissão comunitária” da doença e questiona a alegada ponderação do Governo angolano em oficializar a situação.
Angola, que vive situação de calamidade pública, conta atualmente com 212 casos da covid-19, nomeadamente 121 ativos, sendo 20 com “vínculo epidemiológico por determinar”, 81 recuperados e 10 óbitos.
Segundo Jeremias Agostinho, os casos positivos da covid-19 com vínculo por se esclarecer, “como denominada o Governo angolano”, são “casos típicos de transmissão comunitária da doença que é esperado que aconteça no nosso país assim como ocorreu noutros países a medida do tempo”.
“Oficialmente não temos transmissão comunitária. Temos uma denominação que é vínculos por esclarecer, vínculo por esclarecer ao rigor da palavra é uma transmissão comunitária até porque já vamos em 20 casos”, afirmou hoje o médico, em declarações à Lusa.
Para o mestre em Saúde Pública, Angola encontra-se atualmente numa situação “muito semelhante à transmissão comunitária e que em outros países já foi considerado, quando se encontravam numa fase como essa”.
Pelo menos, observou, na capital angolana o comportamento da doença “está a ser o que denominamos de transmissão comunitária do vírus”.
Além de casos importados e de transmissão local, assumidos pelas autoridades, durante esta semana a comissão multissetorial de controlo e combate à pandemia em Angola tem anunciado casos positivos “vínculo epidemiológico por determinar”.
Questionado sobre o possível receio das autoridades em assumir a existência de circulação comunitária da covid-19, o pediatra admitiu que a “alta taxa de analfabetismo” no país esteja a concorrer para que o Governo “protele em oficializar” o novo figurino da doença no país.
Porque a “população com pouca instrução tem a tendência de tomar medidas um pouco extremas, como adesão aos supermercados para aquisição de grandes quantidades de alimentos, enfim, existe a probabilidade de uma informação como essa ter um forte impacto na nossa população”.
“Se calhar isso explique esse receio por parte da comissão multissetorial em declarar circulação comunitária”, notou.
Mas, adiantou, “temos que dizer que, em caso de circulação comunitária, isto não irá alterar em nada a vida do cidadão, porque as medidas que serão tomadas serão já da chamada fase de mitigação que consta do plano de contingência”.
No decreto conjunto dos Ministérios do Interior e da Saúde sobre a cerca sanitária na província de Luanda, a autoridade de saúde pública reconhece que “Luanda encontra-se numa situação epidemiológica compatível com transmissão comunitária ativa, o que significa que existe um risco de rápida propagação, podendo mesmo dar origem a novas cadeias de transmissão em zonas vizinhas”.
Aludindo ao disposto no derreto, o médico angolano sublinha que a circulação comunitária está previsto no diploma e “agora o que se quer perceber é porque que se hesita em fazer esta declaração”.
Jeremias Agostinho referiu igualmente que a aceleração diária de casos positivos em Angola decorre do período de cacimbo, cujas temperaturas e humidade baixas propiciam tosses e espirros que alargam a probabilidade de transmissão da doença.
Outro motivo, acrescentou, “é claramente o aumento que se tem na capacidade de testes no país, estamos com mais de 400 testes diários e isso faz com que não tenhamos mais casos, mas acabe por se descobrir mais casos”.
“Já que 97% dos casos no nosso país são assintomáticos, então, provavelmente, o que estamos a fazer é descobri-los”, rematou.
A nível global, segundo um balanço da AFP, a pandemia de covid-19 já provocou quase 484 mil mortos e infetou mais de 9,5 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
C/ Lusa