Notícias de África – João Lourenço deixa de mediar conflito RDCongo e Rwanda
O Presidente da República de Angola, João Lourenço, anunciou que passará o testemunho a outro país na mediação do conflito entre a República Democrática do Congo (RDC) e o Rwanda, quando assumir hoje (sábado) a presidência rotativa da União Africana (UA).
Em entrevista à revista francesa Jeune Afrique, publicada na quinta-feira, o Chefe de Estado afirmou que, embora continue empenhado na resolução do conflito entre os dois países, sua nova função na UA exigirá uma abordagem mais ampla, estendendo o foco a outros desafios de segurança no continente.
João Lourenço não revelou qual país assumirá a mediação do conflito RDC-Rwanda, justificando que a decisão não será tomada unilateralmente, mas sim no âmbito da União Africana.
“Primeiro, é necessário que existam países e chefes de Estado disponíveis para essa responsabilidade”, esclareceu.
O estadista angolano admitiu que inicia hoje o seu mandato na UA num momento crítico para a segurança africana, com múltiplos desafios, incluindo conflitos armados, ameaças terroristas e sucessivas mudanças inconstitucionais de governos democráticos.
Entre as crises mais preocupantes, destacou a tensão entre RDC e Rwanda, a guerra no Sudão e a insurgência em Cabo Delgado, Moçambique.
Especificamente sobre a escalada de violência na região dos Grandes Lagos, João Lourenço alertou para o risco de generalização do conflito, podendo arrastar outros países vizinhos. “É fundamental que sejam feitos todos os esforços para evitar essa situação”, sublinhou.
Processo de Luanda
O Presidente recordou que a sua mediação, conduzida no âmbito do Processo de Luanda, conseguiu avanços importantes, incluindo um cessar-fogo temporário entre as partes em conflito.
“O mandato que recebemos da União Africana foi para trabalhar na normalização das relações entre dois Estados vizinhos, que, por princípio, devem manter boas relações de amizade e cooperação económica”. , frisou.
No que diz respeito ao grupo rebelde M23, João Lourenço defendeu que a solução deve ser encontrada no quadro do Processo de Nairobi, destacando a necessidade de dialogo inclusivo.
“As autoridades congolesas estão conscientes disso e temos aconselhado o Presidente Félix Tshisekedi a negociar com todas as partes envolvidas, incluindo M23, uma vez que são cidadãos congoleses”., afirmou.
O líder angolano ilustrou sua posição com a experiência de Angola, que enfrentou um longo período de guerra civil. “Quando chegou o momento certo, tivemos que dialogar com todas as partes, incluindo forças externas, como o regime do Apartheid sul-africano, e também com os americanos” , lembrou, referindo-se aos Acordos de Nova York.
Sanções e solução diplomática
Questionado sobre a possibilidade de propor sanções contra os envolvidos no conflito, João Lourenço afirmou que acredita ainda existir margem para negociações diplomáticas.
“Antes de considerar medidas extremas, há espaço e oportunidade para um novo encontro ao mais alto nível, entre os Chefes de Estado da RDC e do Rwanda, para concluir o Processo de Luanda”, concluiu.
Com a sua ascensão à presidência da União Africana, João Lourenço terá agora o desafio de lidar com múltiplas crises no continente, enquanto transfere a mediação da crise entre RDC e Ruanda para um novo interlocutor regional.
Fonte: Imparcial Press