Zimbabué – Afinal Robert Mugabe morreu pobre
O ex-Presidente do Zimbabué, Robert Mugabe, que governou de 1980 a 2017, e morreu em Agosto deste ano, com o seu país esmagado por uma crise económica gerada pelas suas políticas desastrosas e pela corrupção, nos últimos anos de “reinado”, afinal era “pobre”, sendo aqui as aspas justificadas por se tratar de uma pobreza relativa e sobre a qual permanecem dúvidas.
Ninguém duvidava que Mugabe tinha amealhado uma fortuna colossal durante quase quatro décadas de governação, com a última década marcada por uma avalanche de corrupção e políticas económicas que conduziram um dos países mais prósperos do continente africano à indigência.
Mas não, mesmo tendo em conta a extravagância da sua mulher, Grace Mugabe, e as histórias de fortunas gastas em luxos na Europa e nos EUA ou na África do Sul, Robert Mugabe deixou “apenas” 10 milhões de dólares norte-americanos numa conta bancária, uma fazenda relativamente modesta e cinco casas em Harare e um punhado de automóveis.
A lista dos bens, a que se juntam ainda pequenas porções de terra, sem significado, junto à sua terra natal, Kutama, foi publicada por um jornal estatal, o Herald, de Harare, apanhando quase toda a gente de surpresa, porque desde que morreu, aos 95 anos, pairava uma enorme dúvida sobre a real dimensão da fortuna deixada pelo ditador que foi, em tempos, nas décadas de 1970 e 1980, um dos mais respeitados políticos africanos.
A dúvida era sobre o tamanho real, porque colossal, ninguém duvidava que fosse. Mas estavam todos enganados, pelo menos a ter em conta a lista publicada na terça-feira, embora, ao mesmo tempo, tenham surgido na imprensa local, de imediato, muitos a duvidar e a manifestar cepticismo quanto à veracidade desta informação.
Isto, porque Mugabe, pensava-se, tinha muitos milhões de dólares em aplicações no estrangeiro, muitos milhões em contas bancárias da África do Sul aos paraísos fiscais em ilhas exóticas ou mesmo na Suíça, fortunas em diamantes raros, obras de arte, carros de colecção… mas nada disso parece ser verdade.
Esta lista foi conhecida porque uma filha de Mugabe, Bona Chikowore, escreveu, como conta a imprensa com correspondentes em Harare, a entidades oficiais a pedir o registo dos bens do seu pai, demonstrando que eram os tais 10 milhões USD e as cinco casas, os 10 carros e uma fazenda na sua terra natal, e pouco mais.
Apesar da curiosidade, e da procura desenvolvida por jornalistas e entidades oficiais, desde a sua morte nada mais foi descoberto.
Porém, existem diversos relatos de que os seus familiares, os filhos e especialmente a sua última mulher, Grace, conhecida por “Gucci Grace” (na foto), por causa da sua extravagância e vida luxuosa, possuem ainda hoje, embora com a propriedade camuflada em opacos sistemas financeiros internacionais, luxuosas propriedades no estrangeiro, fortunas bancárias e bens vultuosos.
Recorde-se que Mugabe foi o líder do movimento independentista ZANU-PF até 1980, ano em que a antiga Rodésia passou a Zimbabué, depois de eleições em 1979, forçadas pela acção da guerrilha nacionalista, terminando o poder “branco”.
Primeiro, entre 1980 e 1987, Mugabe lidera o país enquanto primeiro-ministro, e, depois, de 1987 a 2017, como Presidente sucessivamente eleito com maiorias avassaladoras, em eleições esmagadas na sua credibilidade pelas suspeitas e pela repressão sobre a oposição.
Apesar de ter sido deposto através de um golpe militar, em finais de 2017, que deu lugar à ocupação da Presidência pelo seu antigo vice e velho companheiro de trincheira, Emmerson Mnangagwa, Robert Mugabe recebeu do Estado uma choruda pensão vitalícia e todas as regalias admitidas legalmente a um Chefe de Estado.
O Zimbabué é hoje um dos países onde a pobreza mais galopa, a fome é generalizada, com necessidade de persistente ajuda internacional em bens alimentares, apesar de ter sido o grande celeiro de África durante décadas.
A agricultura, o seu grande trunfo económico, colapsou com a expropriação das terras na posse de brancos e entregues a cooperativas locais ou a membros da elite da ZANU-PF, e o turismo, outro grande trunfo, sucumbiu perante a incerteza e a insegurança.
Dados da ONU apontam para 72% da população a viver uma pobreza crónica, sendo de salientar, como exemplo, que o Produto Interno Bruto (PIB caiu neste país, em poucos anos, 17% quando, nos restantes países da África Austral, em média, subiu mais de 5%.