Política – Aprendizes de damas: João Lourenço e MPLA
Não seremos os primeiros a dizê-lo. Além da progressiva e generalizada perda da capacidade de governação, o MPLA vai também revelando sintomas graves de incompetência na formatação da nova ditadura da nova Era.
A cada acção, a cada reacção, a cada decisão, o raciocínio e a destreza que se exigem de uma equipa capitaneada por um xadrezista famoso expressam-se sobretudo na forma de precipitação e desespero. Não há dúvidas, pois, que, mesmo nas hostes do MPLA, há cada vez mais gente agastada com tamanho amadorismo.
Veja-se o que se tem passado com toda a novela em torno da ameaça que representa Adalberto Costa Júnior.
Numa jogada que mais se parece de principiantes de damas, do que de especialistas de xadrez, João Lourenço e MPLA exibiram publicamente a arma proibida que serviria de último recurso para o derrube do aclamado líder da Unita, o Tribunal Constitucional. Num primeiro momento, com o próprio MPLA a incluir num comunicado insensato a menção de que Adalberto Costa Júnior estaria por um fio na liderança do seu partido. Num segundo momento, com João Lourenço a nomear uma alta dirigente do ‘politburo’ para liderar precisamente o Tribunal que teria a última palavra sobre o cargo do grande rival que estava “por um fio”.
Enfim, tudo denunciado, tudo previsível, tudo arrogante. Arrogância – diga-se de passagem – que não se explica apenas pelo conforto habitual de quem se julga herdeiro divino do poder. A Unita e muito particularmente o seu líder, Adalberto Costa Júnior, reclamam parte significativa do mérito neste desvario total da turma do poder. Tal é o descontrolo que até a instrumentalização dos órgãos de comunicação social públicos passou a produzir diariamente factos tragicómicos sem paralelo.
Como as declarações recentes do administrador de conteúdos da TPA, segundo as quais o presidente do maior partido na Oposição não era razão bastante para ser entrevistado. E porque não referir o teatro desta terça-feira, 05, em que a Rádio Nacional de Angola cita a TV Zimbo como fonte, a TV Zimbo cita a TPA como fonte e TPA cita a Rádio Nacional como fonte de uma mesma notícia: a anulação pelo Tribunal Constitucional do congresso que elegeu Adalberto Costa Júnior como presidente da Unita.
Eis a razão por que temos defendido aqui, incessantemente, a necessidade de uma mudança que solte de facto o Estado das garras do partido. Eis a razão por que até militantes do MPLA, como Francisco Viana, passaram a pensar que é momento de o seu partido descansar onde nunca esteve, a caminho de meio século: na oposição.
Valor Econômico