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Álvaro Sobrinho: O homem que desfalcou 500 milhões de Euros do banco Besa

Mundo – Álvaro Sobrinho: O homem que desfalcou 500 milhões de Euros do banco Besa

Uma investigação de Março de 2018 em que participou o jornal português “Expresso” mostra que o empresário terá enviado para (pelo menos) três empresas angolanas a que estaria, na realidade, ligado. Vários movimentos eram em dinheiro vivo.

O antigo presidente do Banco Espírito Santo Angola (BESA), Álvaro Sobrinho, terá desfalcado o banco num equivalente a pelo menos 433 milhões de dólares (350 milhões de euros), através de um esquema de empréstimos a empresas de quem não se conheciam sócios — e que, suspeitam as autoridades, estariam ligadas ao próprio Sobrinho.

Juntando a esse valor os 182 milhões de dólares (que, segundo noticiou o Expresso em Junho), Sobrinho recebeu das offshores Grunberg e Pineview (e, também, em nome próprio), ascendem a cerca de 500 milhões de euros os fundos que o empresário angolano terá desviado do BESA naqueles anos.
Estes são os principais números que nascem de uma investigação em que participa o jornal Expresso, com o consórcio EIC (European Investigative Collaborations), a partir de uma fuga de informação com documentos e e-mails que chegaram às mãos da revista alemã Der Spiegel.

Os documentos explicam em detalhe como Sobrinho terá beneficiado de uma rede de empresas a quem foram feitos empréstimos volumosos, dinheiro que flui para fora do BESA (que tinha no BES o seu maior accionista).
No total, no que se conclui a partir da documentação, o BESA terá emprestado 1,6 mil milhões de dólares a cinco empresas-fantasma, a quem ninguém conhece donos e sobre as quais, Sobrinho não deu explicações à gestão que lhe sucedeu, liderada por Rui Guerra.

Sobrinho terá ligações a pelo menos três das cinco empresas (Vaningo, Cross Fund, Saimo, Govest e Socidesa). Houve transferências e depósitos em numerário (dinheiro vivo na ordem de dezenas de milhões de dólares) para empresas em que o beneficiário real era Álvaro Sobrinho e a família directa.
O DCIAP e o Ministério Público suíço estão a investigar este caso de burla qualificada, abuso de confiança e branqueamento de capitais. A documentação inclui vários e-mails trocados entre Álvaro Sobrinho e o cunhado, Manuel Afonso-Dias, que lhe geria a fortuna privada, onde fica claro que Álvaro Sobrinho fez os levantamentos suspeitos e transferências/depósitos para as empresas suspeitas.

Em várias ocasiões, nesses e-mails, Manuel Afonso-Dias aparece a queixar-se do “caos” contabilístico que era gerado por estes movimentos. Perante a preocupação do cunhado quanto ao que se chamavam de “suprimentos”, Álvaro Sobrinho disse-lhe, por exemplo, que “no banco não tens de dizer nada. Se, por acaso, te perguntarem, só tens de dizer que são dívidas entre empresas”.

Ocean Private, Anjog e Marina Baía eram os nomes das três empresas que receberam um total de 433 milhões de dólares vindos do BESA, pela mão de Sobrinho. Estes recursos permitiram a Álvaro Sobrinho ir além do que era a sua remuneração normal, no BESA, e acumular uma fortuna que lhe permitiu, por exemplo, comprar os jornais Sol e i (através de uma offshore), e tornar-se accionista da SAD do Sporting com quase 30% do capital (segundo dados de Dezembro de 2016 da CMVM).

Na Comissão Parlamentar de Inquérito, em Portugal, já que em Angola nunca foi questionado de nada, Álvaro Sobrinho garantiu que era “impossível” que se tenha dado crédito (no BESA) a empresas ligadas a si — e considerou “absurdo” falar-se em levantamentos e depósitos de várias centenas de milhões de dólares em dinheiro vivo.
O Procurador-Geral da República, em 2018, admitia, no Lubango, a possibilidade de investigação das denúncias tornadas públicas pelo ex-presidente da comissão executiva do Banco Espírito Santo Angola (BESA).

O Procurador-Geral da República de Angola, Hélder Pitta Grós, que falava no Lubango, capital da província da Huíla, no final de uma visita que realizou àquela região, referiu que não está nenhuma investigação a decorrer porque a PGR “não pode reagir de forma emocionada e muito menos por pressão”.

Segundo o magistrado, ainda não há registo de nenhuma denúncia formal sobre as revelações do ex-presidente da comissão executiva do BESA, Álvaro Sobrinho, em entrevista à Televisão Pública de Angola, que dão conta de que o banco faliu por uma decisão política dos accionistas do banco e não por insolvência.

“Temos de ser mais contidos para que, quando marcarmos, o passo seja certeiro”, referiu Hélder Pitta Grós, acrescentando que a PGR ainda não teve contacto com mais nenhuma informação, além da que foi veiculada na imprensa. “É ainda cedo para a Procuradoria se pronunciar”, sublinhou.

Numa entrevista no programa de rádio emitido via online “Repensar Angola”, Adalberto Costa Júnior acusava o Presidente da República, João Lourenço, de “proteger os grandes ladrões do país e deu como exemplo primeiro o caso, Álvaro de Oliveira Madaleno Sobrinho” e a presença do primeiro na inauguração do campo de golfe dos Mangais, em Luanda.

Adalberto da Costa Júnior, fez também referência dos mais de mil milhões de dólares de fundos desviados do erário em Angola, para paraísos fiscais com destino à Maurícias e às Ilhas Seychelles, sendo que 70% a 80% eram pertença de “Sobrinho, antigo director do BESA”.

Na sua participação, Álvaro Sobrinho afirma que os factos apontados por Adalberto Júnior são “totalmente falsos” e que nunca teve 700 ou 800 milhões de dólares nas Ilhas Seychelles o seu investimento é igual a zero e nas Maurícias não ultrapassa os 20 milhões de dólares, não provenientes do erário.

Álvaro Sobrinho esclarece ainda que apenas tem 15% do capital da Sociedade Fazenda dos Mangais, proprietária do campo de golfe inaugurado por João Lourenço.

Em 2014, face aos problemas financeiros do Banco Espírito Santo Angola (BESA), o Estado decidiu intervir. Angola assumiu o controlo do banco. Entretanto, a Justiça portuguesa investiga o ex-presidente do BESA, Álvaro Sobrinho.
José Eduardo dos Santos injectou um capital na ordem dos 5,7 mil milhões de dólares ao BESA

Como “garantia soberana irrevogável”, o executivo do ex-Presidente José Eduardo dos Santos anunciava uma injecção de capital na ordem dos 5,7 mil milhões de dólares (cerca de 4,3 mil milhões de euros) de que o BES Angola necessitava por ter mais de 70 por cento da sua carteira de crédito em risco de incumprimento.

C/ NMC

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