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Como os bancos fazem dinheiro do nada

Como os bancos fazem dinheiro do nada

O presente texto é uma breve, simples e resumida abordagem a respeito do sistema bancário e sua a capacidade de criar dinheiro ou expandir a base monetária. Dispensa-se aqui analises que envolvam a moeda em detalhe, como sua “neutralidade” ou “não-neutralidade” na macroeconomia.

Nos últimos anos, observou-se o rombo de um dos maiores bancos do país, o elevado índice de credito malparado e a pouca qualidade dos ativos dos demais bancos públicos e privados foram manchete nacional e internacional.

Hoje fazem mais de 10 anos desde que a crise financeira causada principalmente por bancos americanos veio à tona. O crédito fácil e a disseminação de um investimento “desvalorizado” pelo mundo todo estiveram na raiz do problema, crise esta que foi além do sistema financeiro. Muitas empresas faliram, levando determinados países a recessão e um índice alto de desemprego.

Após o ocorrido, vários países reforçaram seus sistemas de regulação ou supervisão bancária e sistema financeiro. Ainda assim, hoje, bancos privados continuam tendo a capacidade de criar dinheiro do nada, instituições estas continuam registrando lucros milionários em pleno período de crises.

Devo admitir que, afirmar que “os bancos criam dinheiro do nada” seja um exagero que pode levar os mais leigos na questão a interpretações equivocadas. Faz se necessário atentar que os bancos criam dinheiro de alguma forma, e o que há de errado nesta maneira de fazer dinheiro.

A moeda bancária, escritural ou invisível – Conforme Lopes e Rossetti, o desenvolvimento desta moeda ocorreu de forma acidental, foi precipitado pela independência do poder decisório do departamento bancário e monetário do banco da Inglaterra, no século XIX.

Atualmente a moeda bancária representa a parcela maior dos meios de pagamento, segundo o conceito convencional de moeda praticamente em todos os países, os autores acrescentam que:

(Essa forma de moeda é criada pelos bancos comerciais e corresponde ao total dos depósitos à vista e a curto prazo nestes estabelecimentos de crédito).

O parágrafo acima, dentro de parênteses, é mentira, “o total de moeda escritural criada pelos bancos não corresponde ao total de depósitos a vista no curto prazo”. Vejamos o porquê no decorrer do texto.

Em muitos textos de economia e finanças se é levado a acreditar que os bancos simplesmente tiram dinheiro dos poupadores e emprestam aos mutuários ideia equivocada. Em teoria, é isso o que diz os manuais de economia básica, a função de um banco é a de servir de intermediário entre o poupador e o investidor.

Um banco captaria um depósito de um cliente, o poupador, e emprestaria este valor para um empreendedor. Para fazer isso, o banco emitirá um título prometendo pagar uma determinada taxa de juros A. O poupador compraria este título. Ato contínuo, o banco emprestaria o dinheiro assim obtido para um empreendedor que necessitasse de financiamento.

O banco cobraria deste empreendedor uma taxa de juros B, com B sendo maior do que A. Sua atividade como intermediador financeiro seria a de coletar poupança e direcioná-la para empreendedores.

Neste caso, como os empréstimos feitos pelos bancos estão vindo de uma poupança real que estaria apenas sendo transferida de um indivíduo para o outro, podemos dizer que está havendo a criação de crédito real. O crédito real é a base da acumulação de capital e do crescimento econômico.

Normalmente, bancos privados são obrigados por lei a manter uma reserva compulsória por cada depósito realizado na conta do Banco central do país em que opera, em Angola não é diferente. O depósito compulsório é, como o nome diz, um depósito que os bancos são obrigados a fazer no Banco Central.

Todos os bancos têm de manter depositado no Banco Central uma determinada porcentagem do valor total de seus depósitos.

Por exemplo, se um banco tem 1.000.000,00KZs em conta corrente, e o compulsório é de 10%, os bancos têm de manter $100.000,00KZs parados no Banco Central e trabalhar com o restante.

Mas não é bem assim que funciona, na realidade, na economia moderna, os bancos comerciais são os criadores da moeda depositada, invés de os bancos emprestarem a partir dos depósitos neles efetuados, o acto de emprestar cria depósitos.

Quando um banco faz um empréstimo, como para alguém que contrai uma dívida para pagar ou financiar qualquer coisa que seja, este tipicamente não faz isso dando-lhe um valor de milhares de Kwanzas. É feita uma transferência nominal na conta do cliente, nesse momento é criada nova moeda.

O banco não torna realmente disponível qualquer moeda para o tomador do empréstimo: Não se verifica nenhuma transferência de fundos de qualquer lugar para a conta do cliente. Portanto, bancos não são como muitos acreditam mediadores de crédito. Eles são criadores de crédito.

Em vez de atuarem como intermediadores da poupança e do investimento, os bancos na realidade possuem o privilégio legal e exclusivo de criar dinheiro do nada, emprestarem este dinheiro e cobrarem juros sobre ele. Bancos possuem o privilégio legal, concedido pelo estado, de criar dinheiro eletrônico, de emprestar estes dígitos eletrônicos para pessoas e empresas, e de cobrar juros sobre eles.

Algo que lhe daria cadeia se você fizesse, os bancos fazem com a autorização e até mesmo com um forte incentivo estatal. – Os bancos de hoje lidam majoritariamente com dígitos eletrônicos que eles próprios criam.

Todo o dinheiro que está hoje na forma de dígitos eletrônicos em contas e aplicações bancárias entrou na economia de uma única maneira: criação de crédito bancário. Não há nenhuma outra maneira de o dinheiro entrar na economia geral a não ser pela criação de crédito bancário.

A principal fonte de todos os depósitos bancários que hoje existem na economia “não são os depositantes”, mas sim os empréstimos que os bancos criam do nada. Os depósitos são a consequência destes empréstimos.

Contas bancárias são produto da criação de crédito, e não o contrário.
Tomamos como exemplo, o banco X, sediado em Angola e com apenas dois estabelecimentos na capital (Luanda) diz ter concedido empréstimos no valor de 1.000.000.000,00KZs no ano passado, este banco teve em poupança este valor para depois emprestar, os clientes deste banco, depositaram em seus balcões um montante equivalente a 1.000.000.000,00KZs!.

Na lógica bancária não tem que necessariamente ser assim, maior parte do crédito concedido são meros registos digitais repassados na conta de quem solicita o empréstimo, independentemente de haver essa quantia a disposição do banco ou não.

Se houver uma corrida bancária para sacar dinheiro, só os primeiros conseguirão levantar, os últimos ficarão sem nada. Eles finalmente descobrirão que os dígitos eletrônicos em suas contas eram apenas aquilo: dígitos eletrônicos. Não havia nada físico lastreando aqueles dígitos.

Sayad em “Sistemas Financeiros” explica a dinâmica do sistema bancário, conforme detalhado a seguir. – Na tabela abaixo vemos o detalhe de um depósito de 10.000,00KZs num banco que mantém uma taxa de reserva compulsória de 10%. O banco pode emprestar 9.000,00KZs, e esse novo depósito de 9.000,00KZs dá origem a uma nova reserva de 900KZs bem como um novo empréstimo de 8.100,00KZs e assim sucessivamente, até os depósitos tenderem a zero.

No final deste processo e quando o total das reservas compulsórias alcançar os 10.000,00KZs iniciais, a banca estará criando 900.000,00KZs. Desta forma, se a taxa de reserva é de 10%, a banca multiplica por 10 o depósito inicial convertendo-o em 100.000,00KZs.

Processo este, também conhecido por expansão monetária, praticados de forma não muito distinta em quase todos os sistemas bancários do mundo. Levando os Bancos Centrais a um processo continuo de injeção de papel moeda na economia.

Não pedir emprestado da poupança de vida de outra pessoa, mas dinheiro que foi criado a partir de nada pelos bancos, – eventualmente, o fardo da dívida tem sido muito alto, resultando na onda de inadimplência que vem interferindo no surgimento ciclos e crises financeiras.

Por: AllQuing