Notícias de Angola – BNA vai introduzir nota de 10 mil kwanzas no mercado para reduzir enchentes nos Multicaixa
A enorme desvalorização do Kwanza e a elevada inflação dos últimos anos tem pesado directamente no funcionamento da rede Multicaixa, sobretudo devido ao aumento da procura por moedas e notas. Fontes ligadas à Empresa Interbancária de Serviços (EMIS) garantem ainda que outros factores, como o baixo valor facial das notas em circulação, estão na base das elevadas filas de espera e das constantes dificuldades em executar operações na rede de caixas automáticas. Enquanto isso, o Banco Nacional de Angola (BNA) receia aumentar os limites diários de levantamento e introduzir notas de maior valor devido aos receios com o comportamento da inflação. Mesmo assim, foram dados os primeiros passos para colocar em circulação, nos próximos meses, a nota de 10 mil Kz, que vai ser produzida na Alemanha.
Em 2014, o limite diário para levantamentos na rede Multicaixa era de 36 mil Kz, o que equivaleria hoje a cerca de 300 mil Kz. Como os limites não acompanharam a trajectória de desvalorização da moeda nacional, valem apenas um terço desse valor (100 mil Kz).
De acordo com a EMIS, só em Novembro do ano passado a rede de caixas automáticas dispensou no total 330 mil milhões Kz ou mais de 360 milhões USD, o que perfaz 11 mil milhões Kz por dia (cerca de 13 milhões USD) ou 3,5 milhões Kz (4 mil USD) em média por ATM activo. Em relação ao período homólogo de 2022, verificou-se um aumento de 8,6% nos valores dispensados (tinha sido 304 mil milhões Kz). Nos dias mais concorridos, a rede Multicaixa pode chegar a entregar 18 mil milhões Kz (cerca de 22 milhões USD). Mensalmente, todos os sistemas operados pela EMIS movimentam cerca de 4 biliões Kz (quase 4,8 mil milhões USD) – mas os levantamentos representam apenas 8%.
Ainda no mês de Novembro de 2023, as notas de 500, 1.000 e 2.000 Kz representaram 75% dos carregamentos, o que significa que dois terços das notas disponibilizadas valem pouco mais de 0,5, 1 e 2 USD. As notas de 5.000 Kz, que actualmente valem pouco mais de 6 USD, ocuparam apenas 25% do espaço disponível, ou seja, apenas uma em cada quatro notas colocadas na rede Multicaixa correspondia ao valor facial mais elevado.
Estas questões técnicas e de gestão da rede, associadas ao baixo número de caixas automáticas activas (ver gráfico) e à instabilidade macroeconómica, são as responsáveis directas pelas constantes filas e confusões que se registam nas imediações dos Multicaixa, sobretudo em Luanda e nas principais cidades do País, onde efectuar um levantamento pode ser uma missão espinhosa.
“O problema das enchentes só se mitiga subindo razoavelmente o limite diário de levantamento”, acredita fonte da EMIS. “O limite diário degradou-se muito em termos de valor real. Mas também não é tecnicamente possível subir o limite diário sem a introdução de pelo menos uma nova denominação de maior valor facial”, sublinha.
Estas questões têm levado a EMIS a pressionar o BNA para fazer alterações nos regulamentos e nos limites de levantamento. Para já, o Expansão apurou que já foram dados os primeiros passos para introduzir a nota de 10.000 Kz, que vai ser produzida na Alemanha.
Quando foi lançada a nova família de notas, em 2021, constava a nota de 10.000 Kz, que nunca chegou a ser disponibilizada exactamente pelos eventuais efeitos nos preços e como forma de impedir a aceleração da inflação, de acordo com a versão oficial. No entanto, este processo é moroso e só daqui a oito ou nove meses estará próximo de ser concluído.
“Não há nenhum país do mundo que use caixas automáticas para dispensar notas de meio euro (mais ou menos 500 Kz). É um grande desperdício. Há países onde os pagamentos electrónicos estão muito mais avançados e digitalizados, mesmo assim os limites diários são bem mais altos”, defende a fonte da EMIS. Na África do Sul, por exemplo, o limite diário é 5.000 rands (cerca de 222 mil Kz).
No entanto, o tema levanta opiniões distintas e, aparentemente, não há um grande consenso sobre os caminhos a percorrer.
Fonte: Expansão