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Angola precisará de 250 anos para alcançar o padrão de vida da África do Sul

Notícias de Angola – Angola precisará de 250 anos para alcançar o padrão de vida da África do Sul

Países excessivamente dependentes da exportação de matérias-primas têm a sua economia ligada aos preços nos mercados internacionais, que, em geral, não controlam. Quando os preços aumentam, o país vendedor vive um tempo de bonança. O problema é que estes preços são muito voláteis e o boom pode terminar a qualquer momento.

Angola

A experiência da economia angolana demonstra claramente como a volatilidade dos preços das matérias-primas, acompanhada de uma gestão com certo nível de particularidades, pode minar a sustentabilidade e desenvolvimento económico e social.

Após um longo período de guerra civil, terminado em 2002, Angola experimentou um boom extraordinário no crescimento económico, impulsionada por receitas provenientes do sector petrolífero.

Com um crescimento médio de 7,3% do seu Produto Interno Bruto (PIB), nos primeiros 16 anos pós-guerra civil, o País foi uma das economias que mais cresceram a nível mundial, estando acima de grandes potências africanas, como a Nigéria, que viu seu PIB crescer, em média, 5,78%, e a África do Sul, em 2,67%, de acordo com os dados contidos no Relatório Económico (2019-2020) do CEIC – o Centro de Estudos e Investigação Científica da Universidade Católica de Angola (UCAN).

Entretanto, a queda nos preços do petróleo, entre 2014 a 2016, levou o país a caminhar para um sentido inverso, experimentando uma longa e dolorosa recessão de cinco anos, com uma contracção média anual no PIB real de 2,1% entre 2016 a 2020.

A renda real per capita também se contraiu com uma média de 5,4% ao ano durante o mesmo período, retornando a níveis próximos aos de 2002, quando a economia cresceu 13,7%.

Embora, entre 2003 a 2018, a economia angolana tenha vivenciado um período de bonança, os dados sobre a pobreza indicam certo nível de desalinhamento entre crescimento do PIB e a desigualdade, ou seja, os benefícios do crescimento não foram distribuídos de
maneira equitativa.

Cerca de um terço dos angolanos vive em pobreza extrema e com menos de USD 2,15 por dia em paridade de poder de compra (PPP) de 2017, conforme espelha o Angola Country Memorandum, o documento do Banco Mundial que examina o crescimento de um país, suas oportunidades e desafios.

A riqueza do país está concentrada nas mãos de poucos, tal como indica o índice de Gini de 0,51, um dos mais altos do mundo, segundo o World Population Review.

Desenvolvimento a passos lentos

Os resultados de desenvolvimento são fracos. Esta constatação é possível verificar quando se consulta o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), indicador que mede o desempenho geral de um país em saúde, educação e padrões de vida a nível económico. Angola tem uma nota de 0,616, muito abaixo da média global, o que o coloca segundo produtor de petróleo do continente africano, na posição 146 numa lista que avalia 192 países.

De acordo com o último Relatório de Desenvolvimento do Programa das Nações Unidas, perto de 3,9 milhões de crianças angolanas, com idades compreendidas entre 6-17 anos, encontram-se fora do sistema de ensino e aprendizagem, cenário que poderá comprometer de maneira irreversível o futuro económico e social do país, pois a qualidade do ensino tem ficado aquém das necessidades. Além disso, Angola caracteriza-se como um Estado de instituições extractivas, minando assim o desenvolvimento económico.

Imprevisibilidade da economia

O crescimento económico de Angola é mais volátil e menos previsível do que o de seus pares. No período de 2002 a 2023, o País teve o maior desvio padrão (0,06) no crescimento do PIB anual em comparação com seus pares estruturais (0,02) e aspiracionais (0,04), indicando uma maior flutuação económica do que os países usados de base comparativa.

Os pares estruturais selecionados são Nigéria, República do Congo, Moçambique, Camarões e Zâmbia; os pares aspiracionais são África do Sul, Botsuana, Indonésia, Colômbia, Peru, Malásia e Chile.

A volatilidade no crescimento do PIB de Angola foi particularmente alta entre 2002 e 2014, coincidindo com o boom do petróleo, seguida de uma leve diminuição entre 2015 e 2023. De acordo com o Angola Country Memorandum, a volatilidade é impulsionada, em grande parte, pelo sector petrolífero, reflectindo a incapacidade de Angola de absorver o impacto das receitas das exportações de petróleo voláteis sobre as flutuações na demanda agregada doméstica.

Devido ao baixo crescimento e à volatilidade excessiva, Angola não está mais acompanhando os pares aspiracionais. Durante o boom do petróleo, a renda per capita de Angola quase convergiu com a da África do Sul e dos países de média renda (MICs). Houve ganhos temporários em produtividade, mas a dinâmica foi revertida após o choque do petróleo de 2014, com uma queda acentuada na produtividade total dos factores (PTF). Isso destaca a insustentabilidade de um modelo de crescimento que depende fortemente do uso da riqueza dos recursos naturais para impulsionar a demanda agregada interna.

Embora tenham havido contribuições positivas do capital físico e do trabalho, essas foram insuficientes para contrabalançar a queda na produtividade, sublinhando a fragilidade estrutural da economia angolana. Como referência, o País precisa de, pelo menos, 55 anos para alcançar o padrão de vida da África do Sul e, numa visão mais pessimista, precisará de, no máximo, 250 anos, conforme o Angola Country Economic Memorandum (CEM) Moving Beyond Oil: Laying the Foundations for Growth and Jobs do Banco Mundial.

Fonte: O Telegrama

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