EUA – Cientista confirma a existência de dois mil vírus mais graves que o coronavírus
O Informativo Angolano soube que, o cientista americano Dennis Carroll dirigiu um programa que identificou dois mil vírus que passam dos animais para o homem, mas que a administração Donald Trump encerrou em 2019.
A crise do novo coronavírus era previsível e de futuro haverá outras como esta.
Essencialmente, porque nos últimos cem anos os seres humanos, tendo passado de mil milhões para mais de sete mil milhões, começaram a invadir zonas de vida selvagem onde milhares de vírus até agora inapercebidos circulam há muito tempo. É o que explica Dennis Carroll, um cientista que em 2009 criou na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID)
um programa chamado PREDICT cujo objetivo era o de investigar vírus que existem em animais e que um dia poderão transmitir-se ao homem.
Esse programa era uma tentativa de ultrapassar uma abordagem puramente reativa a este tipo de fenómenos. Porém, não obstante ter identificado dois mil vírus zoonóticos (ou seja, que se transmitiu do animal ao homem) durante a década em que Carroll o dirigiu, deixou de receber financiamento governamental em 2019 – um dos cortes pelos quais a administração Trump está a ser fortemente criticada atualmente. Para continuar o seu trabalho, Carroll saiu e criou um novo programa, o Global Virome Project.
Numa entrevista agora dada à revista “Nautilus”, Carroll explicou a dinâmica básica dos riscos em causa: “A primeira coisa a perceber é que, quaisquer que sejam as ameaças futuras que vamos enfrentar, elas já existem. Já estão atualmente a circular na vida selvagem. Pensem nisso como matéria negra viral. Uma grande ‘pool’ de vírus está em circulação e não nos tornamos familiar com eles até haver um extravasamento e as pessoas ficarem doentes”.
Na sua opinião, o mais provável é o novo coronavírus ter sido transmitido a humanos quando um animal estava a ser preparado no mercado de Wuhan para ser comido.
É nessas alturas, disse, quando há exposição a “fluídos corporais, sangue e secreções”, que esse tipo de evento costuma acontecer. Quando aconteceu a epidemia de gripe das aves, “muita da exposição e das infecções provinham da preparação da galinha para ser cozinhada”, recorda. “No Egipto, por exemplo, a maioria dos infetados foram mulheres a quem cabia abater e preparar os animais para serem cozinhados.
A hipótese de os morcegos estarem envolvidos na nova epidemia parece ser aceite por Carroll e este investigador lembra que o ser humano “está a entrar em ecozonas que antes não ocupáva”. Refere a indústria mineira como um elemento decisivo, pois tem o duplo efeito de entrar em zonas antes não exploradas e de levar ao deslocamento de populações animais.
Mudanças na utilização da terra, em especial a passagem da agricultura para a pecuária, que descreve como o maior fator preditivo de “eventos de extravasamento”, têm-se intensificado com o aumento dos rendimentos da população de países em desenvolvimento – quanto mais elevado o nível de vida, normalmente, mais carne as pessoas consomem.
No caso do vírus que produz a doença Covid-19, nota Carroll, o próprio nível relativamente baixo de virulência contribui para a pandemia. Quando um vírus mata mais, desaparece mais depressa, pois os vírus não são mais do que proteína à volta de material genético e dependem de células vivas para se replicarem. Isto é, de animais, seja o animal humano ou qualquer outro.
Carroll apela à consciência de que as nossas ações sobre o meio ambiente têm consequências e ao estabelecimento de regras de segurança. Mas reconhece que, como geralmente se trata de meros riscos e não de catástrofes em curso, a inércia dos governos e das instituições tende a prevalecer.
“Enquanto sociedade, não investimos em coisas que não estão a deitar abaixo a nossa porta”, resume. E se neste momento a porta está a ir abaixo com a Covid-19, quando a crise passar é bastante provável que tudo volte ao mesmo. Até à próxima crise…
Noutra entrevista, dada à Kaiser Health News, Carroll reitera os mesmos pontos e assinala duas evoluções que em conjunto são paradoxais. Por um lado, “devido à globalização e aos movimentos populacionais, um evento num lugar qualquer torna-se uma ameaça em todo o lado”. Por outro lado, numa altura em que tensões políticas minam parcerias internacionais que ajudaram a lidar com anteriores epidemias, a resposta global encontra-se cada vez mais fragmentada.
O cientista dá o exemplo da América, mas na Europa a ausência de uma estratégia comum para lidar com a Covid-19 também tem sido assinalada e criticada.