Notícias de Angola – Imigrantes enviaram 525,5 milhões USD para fora e angolanos só receberam 6,5 milhões USD
As remessas e outras transferências dos emigrantes angolanos recebidas do resto do mundo fixaram-se nos 3,46 milhões USD, enquanto os imigrantes enviaram 307,32 milhões USD, no segundo trimestre de 2022, de acordo com os dados do Banco Nacional de Angola (BNA), divulgados recentemente.
O fluxo das remessas e outras transferências pessoais recebidas de Abril a Junho representam um crescimento de 14% quando comparado com o primeiro trimestre deste ano, cujo valor foi de 3,0 milhões USD. Se compararmos em termos homólogos, o crescimento foi de 5%.
No período em análise, as remessas dos angolanos que estão na diáspora vieram maioritariamente dos Estados Unidos da América (com cerca de 610 mil USD), seguido de Portugal com 60 mil USD e França com 430 mil USD, com um peso de 17,6%, 17,4% e 12,4%, respectivamente.
A nível das saídas, os 307,32 milhões USD representam um crescimento de 117% em termos homólogos e 42% face ao primeiro trimestre deste ano.
Os imigrantes portugueses representam uma parte significativa das divisas que saíram de Angola neste âmbito, com 149,93 milhões USD, depois de se verificar um crescimento de 43% em relação aos primeiros três meses do ano. Com um peso de 48,8%, Portugal é o principal destino das remessas e outras transferências pessoais saídas do País, o valor inclui as remessas de trabalhadores portugueses em Angola e de angolanos que têm família em Portugal ou que se encontram a estudar naquele país europeu.
Assim, o saldo das remessas e outras transferências pessoais registou outra vez um défice (303,86 milhões USD), à semelhança dos períodos anteriores, quase na mesma proporção das remessas e outras transferências pessoais enviadas, tendo em vista que as remessas e outras transferências pessoais recebidas do exterior, continuam a registar valores muito elevados.
No primeiro trimestre, entraram no País cerca de 3,04 milhões USD e saíram 216,19 milhões USD de remessas, o que resultou num saldo negativo de 213,15 milhões USD.
Contas feitas, nos primeiros seis meses do ano, saíram de Angola 525,5 milhões USD como remessas e outras transferências pessoais e entraram apenas 6,5 milhões USD, o que quer dizer que Angola recebeu apenas 1% do que enviou para o estrangeiro em termos de remessas.
Como habitual, Portugal representa a maior fatia das remessas e outras transferências pessoais, em termos de entrada e saída. Na lista dos principais destinos das remessas nos primeiros seis meses constam também os asiáticos China e Vietname com 105 e 98 milhões USD, respectivamente.
Segundo o economista e consultor Augusto Fernandes, o grande fluxo de transferência de Angola para o exterior está muito ligado ao facto de grande parte dos empresários que operam na economia angolana, nos diferentes sectores de actividade, tanto o primário, secundário e terciário, ser estrangeiro, “que no final do ano solicitam a transferência dos seus rendimentos para o exterior”.
Adicionalmente, pelos angolanos que residem no exterior dos País e aqueles dependem das famílias que vivem em Angola, “deste jeito as famílias angolanas mandam remessas para os seus familiares que vivem fora de Angola”, explica.
Augusto Fernandes considera que é fundamental que os empresários e empresas que produzem riqueza em Angola sejam detidos por angolanos.
“É necessário que os filhos de angolanos que vivem fora de Angola deixem de depender das remessas que os angolanos enviam para o exterior, também é fundamental que os angolanos detentores de grandes poupanças elegem Angola como centro de guarda das suas poupanças”, apontou.
Já o economista e docente Daniel Sapateiro aponta que, o saldo negativo de remessas financeiras de e para fora de Angola advém da apreciação que houve em 2021 e que terminou em Outubro de 2022, com o Kwanza a desvalorizar face às principais moedas estrangeiras (dólar e euro).
“Neste alinhamento de ideia, foi benéfico o investimento em moedas estrangeiras, seja ele na compra e entesouramento de divisas, seja no envio para o exterior de dividendos das empresas e de particulares”, apontou.
Por outro lado, conforme explica o economista, a confiança dos agentes económicos pela moeda nacional é reduzida, na medida em que o Kwanza não circula fora de Angola e o seu valor está sempre dependente de questões cambiais, inflação, entre outros.
Daniel Sapateiro aponta também que é natural que assim Portugal e China sejam os principais destinos das remessas e transferências saídas de Angola, “pois são mercados fornecedores de bens e serviços, como também de liquidação de salários”.
“Numa fase de relançamento da economia pós Covid-19, manter os contratos em aberto com a liquidação de facturas, de salários e envios de remessa para ajuda familiar, de saúde e educação, são razões objectivas de necessidades de quem cá vive, trabalha e tem relações com o exterior”, explicou.
Entretanto, segundo Daniel Sapateiro, os bancos e as seguradoras devem criar produtos financeiros para captação e manutenção de remessas de nacionais enviadas do estrangeiro, o legislador pode criar uma lei de majoração em sede de Imposto Industrial para quem reinveste os lucros líquidos após a dedução para as Reservas Legais, bem como aprovar medidas fiscais para os jovens estudantes e profissionais para voltarem para o País e terem uma diferenciação positiva em sede de IRT, acrescentando que o BNA poder reduzir o plafond de cartões de crédito para uso pessoal.
“As relações entre Angola e Portugal são muito fortes”
O ex-ministro da Economia português Pedro Siza Vieira considerou recentemente que a relação entre Portugal e Angola pode ser mais intensa, e que os dois países têm melhores condições para promover o comércio e o investimento.
“As relações entre Angola e Portugal são muito fortes, mas podem até ser mais intensas. É verdade que os dois países, nos últimos anos, passaram dificuldades nas suas economias nacionais e isso levou talvez a uma maior dificuldade nas relações internacionais, mas penso que agora estão criadas condições, com mais estabilidade macroeconómica, quer de Portugal quer de Angola, para que se possa retomar um caminho de crescimento que, entre outras coisas, necessita da abertura a outros mercados”, destacou o antigo governante.
Pedro Siza Vieira considerou que notou o “grande processo de ajustamento” nos últimos anos entre os dois países, em termos económicos e das finanças públicas, bem como no sistema cambial, que permitiu melhorar a estabilidade macroeconómica “que se está a traduzir no crescimento que a economia está a ter e que, provavelmente, vai prosseguir nos próximos tempos”.
“O contexto internacional é desafiante, mas os passos que foram dados parecem estar a dar frutos e Angola até parece estar a crescer e a reduzir a inflação em contra ciclo com outros países do mundo”, salientou Pedro Siza Vieira.